Helen Palmer dá conselhos sobre maternidade no Fantástico
Helen Palmer, personagem
fictícia (uma espécie de pseudônimo) inventada por Clarisse Lispector, que dava
conselhos sobre temas diversos na década de 60.
Confira o texto que foi escrito na década de
60 - talvez por isso, o quadro do Fantástico apresente as atrizes vestidas como
na época. Ser mãe é…
“Ser mãe é coisa que mudou bastante através
dos tempos. Na França, por exemplo, houve um tempo em que as fidalgas
consideravam a maternidade uma das mais desagradáveis incumbências. Sem o menor
respeito ou amor pelas crianças, era moda abandonarem seus filhos em lugares
distantes, de preferência no campo, na companhia de empregados e amas. Parece
estranho falarmos de assunto tão sério como esse? Mas é que antes de ser mulher
vaidosa, profissional ou dona de casa você é mãe, não é? Ou quem sabe vai ser
um dia.
Ser mãe é muito mais do
que dar à luz uma criança. Uma verdadeira mulher, uma verdadeira mãe, sabe que
seus deveres vão muito além de enfeitar, agasalhar e alimentar seu filho. Você
tem a difícil tarefa de civilizá-lo.
Não seja responsável pelas futuras falhas de
seu filho, deixando-o crescer longe de seus olhos e de seus carinhos.
Esclarecida é a mulher que é de fato mãe e
educadora e não uma boneca mimada a criar outros bonequinhos mimados.
Cada filho é um universo, e cabe aos pais
descobrir, conquistar e fazer frutificar esse novo ser.
Sim, sim. Toda mãe e todo pai devem conhecer
muito bem a criança que trouxeram ao mundo - e isso só se consegue chegando-se
a ela, ouvindo suas primeiras queixas, seus primeiros desejos.
Um
filho bem compreendido no lar tem as melhores armas para vencer na vida, quando
tiver que enfrentá-la.
Não desanime jamais. As mães podem ser
excelentes amigas se tiverem com os filhos a tolerância e a paciência que têm
para o trabalho doméstico.
Lembre-se: toda criança precisa brincar.
Em vez
de “se encher de paciência”, você vai se encher de amor quando se lembrar de
que, para o seu filho, você é símbolo de conforto e proteção.
Mas é
claro que pais e filhos se cansam mutuamente. Vigiar e ser vigiado fatiga um pouco
os nervos.
O importante é não esquecer que você está
moldando um ser humano, dando-lhe bons ou maus exemplos. Como pode uma mãe
tentar corrigir um filho que grita se ela também grita por qualquer motivo?
Desde pequenos, os filhos devem ir aprendendo
a se portar bem em sociedade. Sim, minha amiga… Quando se tornarem adultos será
tarde demais.
Sua
criança é um ser em formação - está sempre mudando.
Sim,
filhos crescem rápido. Mas não creia que quando chegarem à puberdade a sua
tarefa terminou. Nesse período de turbulência e hipersensibilidade, de vaidade
e egoísmo, é que eles mais precisam de compreensão.
Os jovens não sabem muito bem o que são, nem o
que querem ser. E ainda por cima desconfiam da vontade de mandar dos adultos. O
melhor jeito não é insistir, e sim dar a eles uma discreta mistura de apoio e
liberdade.
Com
inteligência e o instinto materno que todas nós temos, você lhe mostrará o que
está certo ou errado, mas de maneira sutil.
Ela
vai errar, provavelmente vai - afinal, nós também erramos. Mas errar é o começo
de acertar também.
Você já deve ter notado que os pais que cedem
a todos os caprichos infantis passam a ser considerados pela criança um
joguete.
Cabe a
vocês preparar jovens capazes, conscientes e úteis.
Antes de tudo, seja amiga de seu filho. Não
amiga para dar guloseimas, coisas bonitas, beijos apressados e mesadas
generosas.
Generosidade, aliás, é outra coisa. Você já
pensou que um pouco de perfume sempre fica nas mãos de quem oferece rosas?
Eu
nunca prestei um favor sem sentir que nas minhas mãos ficou a lembrança do
gesto de dar. Nunca dei amor de verdade sem sentir que também recebi amor. É
essa a melhor forma de se sentir recompensada por todos os trabalhos. A melhor
maneira de ser mulher, a melhor maneira de ser feliz.
Minha
amiga, você com certeza já sabe e sente: a ternura é uma fonte inesgotável de
bem! Sem ela, o mundo sofre com impertinência, excesso de autoridade, com
maneiras rudes de pais e filhos… Às vezes parece mesmo que estamos sob o
império da grosseria! Mas a ternura… Ah, ela é justamente o contrário disso!
Ela é o extraordinário que podemos encontrar nas coisas mais comuns, é a
hóspede agradável de um lar, é ela que alimenta um amor que nunca cansa nem
acaba. Guarde esse pensamento, seja você mãe ou não: o que não se consegue com
ternura não se consegue por nenhum outro caminho.
A ternura é a grande
conquistadora, aquela que tudo consegue e tudo vence!“
Texto de Clarice Lispector
Fonte: Fantástico
CONCORDAM COM HELEN PALMER
???