MAURÍCIO DE SOUSA:
“AINDA QUERO CONTAR A HISTÓRIA DA MÔNICA ADULTA”
Aos 75 anos, e um
bilhão de gibis depois, nem Maurício, nem sua turminha pararam no tempo. No ano
passado, sua primeira personagem, a Mônica, completou 50 anos e, nos
quadrinhos, já tem sua versão adolescente.
Lançada em 2008, a Turma da Mônica Jovem trouxe,
em um formato semelhante ao dos mangás japoneses, a evolução dos personagens
durante a adolescência, em uma série de novas aventuras. O sucesso foi tamanho
que Maurício já chama a revista de “o maior sucesso de bancas dos últimos 30
anos”, atingindo picos de venda de 500 mil exemplares – como quando a Mônica
beijou o Cebolinha pela primeira vez.
Maurício ainda fala a linguagem que as
crianças gostam de ouvir e, talvez, essa seja uma das chaves para o seu
trabalho passar de geração em geração com tanto frescor.
Conversamos com o autor para entender um pouco
mais sobre a evolução da personagem, o que os seus 50 anos representam e o que
o inspira para escrever os quadrinhos mais famosos do Brasil. O resultado você
confere na entrevista abaixo:
O que você costumava ler durante a infância e
como os livros mudaram sua vida?
Maurício de Sousa:
Felizmente, meu pai e minha mãe sempre me incentivaram a ler gibis, mesmo
quando isso ainda era considerado prejudicial à educação (dá pra acreditar que
havia gente que pensava assim?). E, claro, o fato de serem adeptos de diversas
formas de arte contribuiu para isso. Depois, comecei a ler livros. Chegou a ser
um hábito compulsivo. Daí para virar um contador de histórias foi um pulo.
Quem são seus quadrinistas preferidos hoje?
Como você vê o mercado independente de fanzines, que tem dado espaço a tanta
gente boa?
Maurício: O Brasil tem
ótimos desenhistas de quadrinhos. Muitos trabalham para o mercado externo e até
ganham prêmios nos países onde publicam. Com o trabalho que estamos
desenvolvendo com autores de quadrinhos adultos, adaptando nossos personagens
ao estilo deles, dá pra constatar essa qualidade. Danilo Beyruth, Gustavo
Duarte, Shiko, irmãos Vitor e Lu Cafaggi e essa nova geração de autores chegou
com tudo!
Os seus quadrinhos trazem um imaginário muito
bucólico, que parece ser próprio de quem viveu aquilo. Sua infância foi assim
também?
Maurício: Sim, eu vim
do interior paulista. Acredito que essa minha inspiração em filhos, amigos e
lembranças da minha infância para desenvolver personagens foi uma das razões do
sucesso da Turminha. De alguma forma, os leitores sabem que minhas histórias
não são apenas criações, mas um espelho do que vivemos no dia-a-dia.
Os seus personagens têm
uma certa inocência. Você atribui isso à época em que foram criados ou você
ainda continua vendo as crianças de hoje do mesmo modo?
Maurício: Criança é
sempre criança. Pode ser em países diferentes ou em épocas diferentes. Elas
gostam de descobrir e de brincar. Basta contar histórias com as quais elas se
identifiquem e que as façam rir. Claro que sempre estamos buscando a linguagem
do dia e da vez para acompanhar seu modo de comunicação. O que pode mudar é o
jeito de se comunicar, mas não a essência de cada um.
Ronaldo Fenômeno, Pelé, Maradona, Ronaldinho
Gaúcho e, agora, Neymar apareceram em histórias como personagens da Turma da
Mônica. Por que os jogadores de futebol fazem tanto sucesso entre as crianças?
Porque trazem consigo a
história da busca por um sonho que se realiza. O esporte conta histórias de
superação para se atingir um objetivo maior. Mas é preciso muito estudo para
representar um ídolo nos quadrinhos. Conversamos com eles, com a família e com
amigos para obter toda a informação possível. Imagine a exigência de um fã quando
falam de seu ídolo! A responsabilidade é grande.
A Mônica já está com mais de 50 anos e as
crianças ainda são apaixonadas por ela. A personagem já passou por uma crise de
meia idade?
Maurício: Passou por
todas as crises possíveis e sempre venceu. A personagem completou 51 anos, mas
com corpinho de 7 (risos). Mas um dia, mais pra frente, espero contar a
história da Mônica adulta. E aí entram todos os questionamentos da vida,
inclusive as crises de meia idade.
A que você atribui a longevidade dos seus
personagens?
Maurício: Há uma
identificação do público leitor com os personagens. É gratificante saber que,
além das crianças, temos pais e avós que já leram as aventuras da Turma da
Mônica. Procuramos estar sempre antenados na linguagem do dia, nas preocupações
e brincadeiras da criança atual. Com a internet, Facebook, Twitter e outras
formas de comunicação, conseguimos dialogar em tempo real. Tudo isso é
aproveitado em nossas histórias.
Você teve dez filhos, com idades bastante
diferentes. Estar sempre próximo às gerações de crianças deixa o seu trabalho
mais fresco?
Maurício: Realmente
tenho filhos que vão dos 15 aos 53 anos. Portanto, observei e vivi as diversas
épocas da vida deles. Isso ajuda muito a entender como há uma diferença de
geração para geração e, sim, me mantêm atualizado com a cabecinha das crianças.
Todos têm um personagem inspirado neles?
Maurício: Sim. Apenas o
Marcelinho, meu filho mais novo, ainda não estreou. Mas está para sair do forno
um personagem inspirado nele. Sempre foi muito preocupado com a economia das
coisas. Vai atormentar a turminha!
http://blog.bienaldolivrosp.com.br/jovens-leitores/mauricio-de-sousa-ainda-quero-contar-a-historia-da-monica-adulta