A Prefeitura está
promovendo um processo participativo com a comunidade para construir um projeto
de revitalização da via e fazer do local um ponto turístico
Depois de funcionar por
quase 11 anos na ilegalidade, a tradicional feira da rua Coimbra, na região da
Brás, que reúne 6.000 bolivianos aos sábados, agora está regularizada pela
Prefeitura de São Paulo. Após diálogo entre a Subprefeitura da Mooca, a
Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania e a Associação de
Empreendedores Bolivianos da Rua Coimbra (Assempbol), foi assinada em 18 de
novembro a portaria que autoriza a operação.
A falta de
regularização prejudicava a feira, que sofria com deficiência de sinalização,
organização e definição de horários de funcionamento. Com a autorização, houve
a redução do número de feirantes em acordo com a comunidade, passando de 500
para cerca de 150, assim como o estabelecimento de horário fixo, das 15h às
21h, e garantia de venda somente de produtos típicos do país. Além disso,
agora, o povo boliviano conta com uma estrutura com maior segurança e trânsito
para comerciantes e moradores durante a realização do evento.
“A rua Coimbra é para o
povo boliviano o que a avenida Paulista é para o paulistano. É o lugar onde
nosso povo mora, trabalha, comercializa os nossos produtos e faz nossa cultura.
Essa é uma conquista do povo boliviano após muitos anos de luta e achamos que
será um novo tempo para os bolivianos de São Paulo”, afirmou o presidente da
Assempbol, Luis Vasquez Mamani, que faz parte do Conselho Participativo
Municipal, criado no ano passado.
Na cidade, existe outra
feira do povo boliviano na praça Kantuta, no Bom Retiro, que opera aos domingos
e está regularizada desde 2002, mas a autorização da operação na Coimbra é
especial para os bolivianos. A associação estima que mais de cem famílias do país
vizinho morem na rua e por conta disso, espaços como salões de cabelereiro
exibem nos letreiros “peluqueria”. Os boxes não vendem picolé ou sorvete e sim,
“helado”.
“Os bolivianos estão na
rua Coimbra de segunda a segunda. É ali que está toda a realidade deles em São
Paulo e é na rua que eles se relacionam. A regularização é importante para
reconhecer o valor cultural da feira e deles, mas também para organizar, já que
eles sofriam com a violência”, disse o coordenador de Políticas para Migrantes
da Secretaria, Paulo Illes.
“Queremos que os
brasileiros se aproximem ainda mais e venham à feira, que hoje é praticamente
só dos bolivianos. Os paulistanos devem conhecer nossa gastronomia, nossa
cultura e nossa arte”, afirmou Mamani.
Revitalização e turismo
Além da regularização
das atividades da feira da rua Coimbra, em paralelo, a Prefeitura criou um
cronograma para discutir e captar recursos para a revitalização da rua. As
reuniões com a comunidade boliviana e empresários da região foram iniciadas em
novembro e seguirão até o início de março de 2015. Além do redesenho da via,
promovendo a valorização do espaço urbano, também serão captados recursos da
iniciativa privada para as obras.
Contratado pela
Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania para liderar e projetar a
revitalização junto com a arquiteta Rebeca Grinspun, o arquiteto André Villas
Boas diz que entre as ideias está o alargamento da via nas esquinas, instalação
de mobiliários urbanos como paraciclos e bancos, além de ampliação da
arborização. Um novo projeto de iluminação e a criação de um pórtico com
características da cultura boliviana também estão entre os planos.
“Os bolivianos e os
imigrantes de uma maneira geral sofrem preconceito e estão à margem das
políticas públicas. Não só a regularização, mas a revitalização serve para
incluir essa população e traga a sensação de pertencimento, valorizando a
cultura deles”, afirmou Villas Boas.
Outra das ideias
debatidas é a instalação de totens e pontos de informações turísticas para
trazer pessoas a conhecer a feira e a cultura boliviana. “No Bixiga, existem as
cantinas italianas e o bairro está identificado assim como um local da cultura
italiana. A ideia é que os bolivianos que estão cada vez mais inseridos na
cidade também tenham seu espaço e os turistas possam conhecer”, disse o
arquiteto.
“Os imigrantes são
parte importante da cultura e do desenvolvimento da nossa cidade e sempre foram
vistos com desconfiança, a menos que alcançassem as esferas mais altas da
sociedade. Quero ver a feira da rua Coimbra ser reconhecida daqui a alguns anos
como um local de turismo, como hoje é o bairro da Liberdade”, afirmou o
secretário de Direitos Humanos e Cidadania, Rogério Sottili.
Outras ações
Além de criado o
Conselho Participativo Municipal nas 32 subprefeituras, com mais de 1.000
conselheiros brasileiros eleitos por voto direto, a Prefeitura também abriu
espaço para a participação dos imigrantes na decisão dos rumos da cidade. Em
março, foram eleitos 20 conselheiros que representam os estrangeiros residentes
em São Paulo em 19 subprefeituras. Ao todo, mais de 1.700 pessoas participaram
da eleição, com 1.694 votos válidos.
No início de outubro, a
Prefeitura e a Caixa Econômica Federal assinaram um acordo para facilitar a
abertura de contas bancárias para imigrantes do Mercosul e Associados que vivem
na cidade. O objetivo é trazer mais segurança, além de ampliar a cidadania e
incentivar a regularização desta população da capital. A Secretaria Municipal
de Direitos Humanos e Cidadania estima que a parceria beneficiará mais de 400
mil pessoas.
09/12/2014
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