quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

FEIRA DE BOLIVIANOS DA RUA COIMBRA É REGULARIZADA APÓS 11 ANOS DE LUTA

 Feira de bolivianos da rua Coimbra é regularizada após 11 anos de luta

A Prefeitura está promovendo um processo participativo com a comunidade para construir um projeto de revitalização da via e fazer do local um ponto turístico

Depois de funcionar por quase 11 anos na ilegalidade, a tradicional feira da rua Coimbra, na região da Brás, que reúne 6.000 bolivianos aos sábados, agora está regularizada pela Prefeitura de São Paulo. Após diálogo entre a Subprefeitura da Mooca, a Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania e a Associação de Empreendedores Bolivianos da Rua Coimbra (Assempbol), foi assinada em 18 de novembro a portaria que autoriza a operação.

A falta de regularização prejudicava a feira, que sofria com deficiência de sinalização, organização e definição de horários de funcionamento. Com a autorização, houve a redução do número de feirantes em acordo com a comunidade, passando de 500 para cerca de 150, assim como o estabelecimento de horário fixo, das 15h às 21h, e garantia de venda somente de produtos típicos do país. Além disso, agora, o povo boliviano conta com uma estrutura com maior segurança e trânsito para comerciantes e moradores durante a realização do evento.

“A rua Coimbra é para o povo boliviano o que a avenida Paulista é para o paulistano. É o lugar onde nosso povo mora, trabalha, comercializa os nossos produtos e faz nossa cultura. Essa é uma conquista do povo boliviano após muitos anos de luta e achamos que será um novo tempo para os bolivianos de São Paulo”, afirmou o presidente da Assempbol, Luis Vasquez Mamani, que faz parte do Conselho Participativo Municipal, criado no ano passado.

Na cidade, existe outra feira do povo boliviano na praça Kantuta, no Bom Retiro, que opera aos domingos e está regularizada desde 2002, mas a autorização da operação na Coimbra é especial para os bolivianos. A associação estima que mais de cem famílias do país vizinho morem na rua e por conta disso, espaços como salões de cabelereiro exibem nos letreiros “peluqueria”. Os boxes não vendem picolé ou sorvete e sim, “helado”.

“Os bolivianos estão na rua Coimbra de segunda a segunda. É ali que está toda a realidade deles em São Paulo e é na rua que eles se relacionam. A regularização é importante para reconhecer o valor cultural da feira e deles, mas também para organizar, já que eles sofriam com a violência”, disse o coordenador de Políticas para Migrantes da Secretaria, Paulo Illes.

“Queremos que os brasileiros se aproximem ainda mais e venham à feira, que hoje é praticamente só dos bolivianos. Os paulistanos devem conhecer nossa gastronomia, nossa cultura e nossa arte”, afirmou Mamani.

Revitalização e turismo

Além da regularização das atividades da feira da rua Coimbra, em paralelo, a Prefeitura criou um cronograma para discutir e captar recursos para a revitalização da rua. As reuniões com a comunidade boliviana e empresários da região foram iniciadas em novembro e seguirão até o início de março de 2015. Além do redesenho da via, promovendo a valorização do espaço urbano, também serão captados recursos da iniciativa privada para as obras.

 

 

Contratado pela Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania para liderar e projetar a revitalização junto com a arquiteta Rebeca Grinspun, o arquiteto André Villas Boas diz que entre as ideias está o alargamento da via nas esquinas, instalação de mobiliários urbanos como paraciclos e bancos, além de ampliação da arborização. Um novo projeto de iluminação e a criação de um pórtico com características da cultura boliviana também estão entre os planos.

“Os bolivianos e os imigrantes de uma maneira geral sofrem preconceito e estão à margem das políticas públicas. Não só a regularização, mas a revitalização serve para incluir essa população e traga a sensação de pertencimento, valorizando a cultura deles”, afirmou Villas Boas.

Outra das ideias debatidas é a instalação de totens e pontos de informações turísticas para trazer pessoas a conhecer a feira e a cultura boliviana. “No Bixiga, existem as cantinas italianas e o bairro está identificado assim como um local da cultura italiana. A ideia é que os bolivianos que estão cada vez mais inseridos na cidade também tenham seu espaço e os turistas possam conhecer”, disse o arquiteto.

“Os imigrantes são parte importante da cultura e do desenvolvimento da nossa cidade e sempre foram vistos com desconfiança, a menos que alcançassem as esferas mais altas da sociedade. Quero ver a feira da rua Coimbra ser reconhecida daqui a alguns anos como um local de turismo, como hoje é o bairro da Liberdade”, afirmou o secretário de Direitos Humanos e Cidadania, Rogério Sottili.

Outras ações

Além de criado o Conselho Participativo Municipal nas 32 subprefeituras, com mais de 1.000 conselheiros brasileiros eleitos por voto direto, a Prefeitura também abriu espaço para a participação dos imigrantes na decisão dos rumos da cidade. Em março, foram eleitos 20 conselheiros que representam os estrangeiros residentes em São Paulo em 19 subprefeituras. Ao todo, mais de 1.700 pessoas participaram da eleição, com 1.694 votos válidos.

No início de outubro, a Prefeitura e a Caixa Econômica Federal assinaram um acordo para facilitar a abertura de contas bancárias para imigrantes do Mercosul e Associados que vivem na cidade. O objetivo é trazer mais segurança, além de ampliar a cidadania e incentivar a regularização desta população da capital. A Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania estima que a parceria beneficiará mais de 400 mil pessoas.

 Secretaria Executiva de Comunicação

09/12/2014

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