domingo, 17 de agosto de 2014

MÔNICA JÁ TEM 51 ANOS (23ª BIENAL INTERNACIONAL DO LIVRO)



MAURÍCIO DE SOUSA: “AINDA QUERO CONTAR A HISTÓRIA DA MÔNICA ADULTA”

Aos 75 anos, e um bilhão de gibis depois, nem Maurício, nem sua turminha pararam no tempo. No ano passado, sua primeira personagem, a Mônica, completou 50 anos e, nos quadrinhos, já tem sua versão adolescente.
 Lançada em 2008, a Turma da Mônica Jovem trouxe, em um formato semelhante ao dos mangás japoneses, a evolução dos personagens durante a adolescência, em uma série de novas aventuras. O sucesso foi tamanho que Maurício já chama a revista de “o maior sucesso de bancas dos últimos 30 anos”, atingindo picos de venda de 500 mil exemplares – como quando a Mônica beijou o Cebolinha pela primeira vez.
 Maurício ainda fala a linguagem que as crianças gostam de ouvir e, talvez, essa seja uma das chaves para o seu trabalho passar de geração em geração com tanto frescor.
 Conversamos com o autor para entender um pouco mais sobre a evolução da personagem, o que os seus 50 anos representam e o que o inspira para escrever os quadrinhos mais famosos do Brasil. O resultado você confere na entrevista abaixo:
 O que você costumava ler durante a infância e como os livros mudaram sua vida?
Maurício de Sousa: Felizmente, meu pai e minha mãe sempre me incentivaram a ler gibis, mesmo quando isso ainda era considerado prejudicial à educação (dá pra acreditar que havia gente que pensava assim?). E, claro, o fato de serem adeptos de diversas formas de arte contribuiu para isso. Depois, comecei a ler livros. Chegou a ser um hábito compulsivo. Daí para virar um contador de histórias foi um pulo.
 Quem são seus quadrinistas preferidos hoje? Como você vê o mercado independente de fanzines, que tem dado espaço a tanta gente boa?
Maurício: O Brasil tem ótimos desenhistas de quadrinhos. Muitos trabalham para o mercado externo e até ganham prêmios nos países onde publicam. Com o trabalho que estamos desenvolvendo com autores de quadrinhos adultos, adaptando nossos personagens ao estilo deles, dá pra constatar essa qualidade. Danilo Beyruth, Gustavo Duarte, Shiko, irmãos Vitor e Lu Cafaggi e essa nova geração de autores chegou com tudo!
 Os seus quadrinhos trazem um imaginário muito bucólico, que parece ser próprio de quem viveu aquilo. Sua infância foi assim também?
Maurício: Sim, eu vim do interior paulista. Acredito que essa minha inspiração em filhos, amigos e lembranças da minha infância para desenvolver personagens foi uma das razões do sucesso da Turminha. De alguma forma, os leitores sabem que minhas histórias não são apenas criações, mas um espelho do que vivemos no dia-a-dia.
Os seus personagens têm uma certa inocência. Você atribui isso à época em que foram criados ou você ainda continua vendo as crianças de hoje do mesmo modo?
Maurício: Criança é sempre criança. Pode ser em países diferentes ou em épocas diferentes. Elas gostam de descobrir e de brincar. Basta contar histórias com as quais elas se identifiquem e que as façam rir. Claro que sempre estamos buscando a linguagem do dia e da vez para acompanhar seu modo de comunicação. O que pode mudar é o jeito de se comunicar, mas não a essência de cada um.
 Ronaldo Fenômeno, Pelé, Maradona, Ronaldinho Gaúcho e, agora, Neymar apareceram em histórias como personagens da Turma da Mônica. Por que os jogadores de futebol fazem tanto sucesso entre as crianças?
Porque trazem consigo a história da busca por um sonho que se realiza. O esporte conta histórias de superação para se atingir um objetivo maior. Mas é preciso muito estudo para representar um ídolo nos quadrinhos. Conversamos com eles, com a família e com amigos para obter toda a informação possível. Imagine a exigência de um fã quando falam de seu ídolo! A responsabilidade é grande.
 A Mônica já está com mais de 50 anos e as crianças ainda são apaixonadas por ela. A personagem já passou por uma crise de meia idade?
Maurício: Passou por todas as crises possíveis e sempre venceu. A personagem completou 51 anos, mas com corpinho de 7 (risos). Mas um dia, mais pra frente, espero contar a história da Mônica adulta. E aí entram todos os questionamentos da vida, inclusive as crises de meia idade.
 A que você atribui a longevidade dos seus personagens?
Maurício: Há uma identificação do público leitor com os personagens. É gratificante saber que, além das crianças, temos pais e avós que já leram as aventuras da Turma da Mônica. Procuramos estar sempre antenados na linguagem do dia, nas preocupações e brincadeiras da criança atual. Com a internet, Facebook, Twitter e outras formas de comunicação, conseguimos dialogar em tempo real. Tudo isso é aproveitado em nossas histórias.
 Você teve dez filhos, com idades bastante diferentes. Estar sempre próximo às gerações de crianças deixa o seu trabalho mais fresco?
Maurício: Realmente tenho filhos que vão dos 15 aos 53 anos. Portanto, observei e vivi as diversas épocas da vida deles. Isso ajuda muito a entender como há uma diferença de geração para geração e, sim, me mantêm atualizado com a cabecinha das crianças.
 Todos têm um personagem inspirado neles?
Maurício: Sim. Apenas o Marcelinho, meu filho mais novo, ainda não estreou. Mas está para sair do forno um personagem inspirado nele. Sempre foi muito preocupado com a economia das coisas. Vai atormentar a turminha!

http://blog.bienaldolivrosp.com.br/jovens-leitores/mauricio-de-sousa-ainda-quero-contar-a-historia-da-monica-adulta