Seu filho não te
obedece?
Enquanto viverem com
os pais, os filhos devem saber até onde é permitido ir.
Veja como impor
limites
Converse com seu filho
e mostre o quanto o ama, mas acrescente que existem limites a respeitar...
Educar um filho é uma
das tarefas mais difíceis que há. Para formar adultos de caráter, que entendam
que no mundo há leis, regras e normas de convivência, é preciso dar limite
desde cedo.
O problema é que,
tentando acertar, os pais podem cometer erros graves. Com receio de frustrar e
perder o amor dos filhos, acabam sendo permissivos demais e passam a ceder às
exigências deles. Quando se dão conta, esses pais estão quase obedecendo, em vez
de mandando neles! Atualmente, a relação com os pais está mais
tranquila e acessível, o que é muito bom, mas os papéis, às vezes, parecem
invertidos. Quem é o filho e quem é o pai?, questiona José Carlos Neves
Machado, pediatra e médico escolar com pós-graduação em Psicanálise da Criança.
O que os filhos
precisam é adquirir confiança nos pais e aceitar que, por terem mais
experiência, eles possuem mais condições de estabelecer limites. Confira as
orientações de Machado e ajuste tudo o que for preciso para educar seu filho,
do zero aos 21 anos.
Conversar desde cedo
com a criança ajuda a manter uma boa relação!
Até os 7 anos
Características da idade: a
criança, muito voltada para si, está descobrindo o mundo. É normal ela ter
vontade de experimentar tudo que a cerca, o que, muitas vezes, pode ser
perigoso. Quando o adulto interfere para impedi-la de fazer algo, costuma
reagir com choro e agressividade, até porque não tem poder de argumentação.
Como testam sua paciência:
quando deseja demais alguma coisa, a criança insiste com os pais usando o choro
e resistindo a obedecer o que é pedido. Ela pode criar um dramalhão até em
público. Se perceber que os pais discordam entre si, vai manipular a seu favor
aquele que é mais sensível. A pior coisa que pode acontecer é os pais
discordarem um do outro na frente do filho. É melhor os adultos conversarem
depois para chegar a um consenso.
Seu maior desafio:
compreender que, ao negar algo ao seu filho, ele pode até ficar com raiva, mas
isso não fará com que ele a ame menos. É importante manter a decisão e mostrar
para a criança até onde pode ou não ir.
O jeito certo de lidar: se
toda vez que fizer birra os pais cederem, o pequeno aprenderá que basta chorar
para ter o que deseja. A confusão é maior quando em casa pode tudo e na
escolinha a conduta é mais rígida. É preciso impor limites não para ser chata,
mas para que eles experimentem as consequências de uma decisão. Se, por
exemplo, a criança quebrar um objeto porque teimou em continuar mexendo
naquilo, faça com que ela segure a pá de lixo enquanto você varre os cacos.
Deixe claro que a ama, só não gostou daquela sua atitude. E cobre cooperação!
Dos 7 aos 14 anos
Características da
idade: nessa fase, a criança já consegue entender mais coisas e argumentar.
Isso exige mais firmeza por parte dos pais. Aquelas que foram educadas até aqui
com bastante rigor já sabem com quem estão lidando. Mas as crianças que tiveram
pais maleáveis se sentem com maior poder para extrapolar os limites do bom
senso.
Como testam sua
paciência: agora, seu filho não faz mais birra, mas pode ficar emburrado e se
recusar a realizar as tarefas e obrigações para testar se você acaba cedendo.
Você deve conversar e deixar claro que uma coisa não tem nada a ver com a
outra. Explique que, se ele não fizer as lições de casa, por exemplo, poderá
perder nota na escola e se prejudicar seriamente. Mantenha a postura firme e
deixe claro que não aceita nenhum tipo de chantagem ou pressão emocional.
Seu maior desafio: ser
coerente. É verdade que nunca temos o mesmo humor, mas para educar precisamos
ter o máximo de equilíbrio. Se você reagir em alguns momentos com passividade e
em outros com determinação diante da mesma atitude do seu filho, ele ficará
confuso sobre as regras e os limites.
O jeito certo de lidar:
é saudável para o desenvolvimento da criança que ela assuma algumas
responsabilidades e coopere desde cedo com as tarefas do lar. Ela pode arrumar
a cama, tirar os pratos da mesa e cuidar dos próprios pertences. Ajudar a
família dá a ela a noção de que na vida não temos apenas direitos, temos também
deveres. Isso é essencial para que compreenda que há limites bem definidos.
Outra dica: não perca muito tempo dando longas explicações quando proibir algo.
Diga seus motivos uma vez, com firmeza.
Dos 14 aos 21 anos
Características da
idade: a adolescência é uma época de
muitas dificuldades, começando pelo corpo, que está em transformação. A cabeça
também muda: o jovem percebe que seus pais têm defeitos, não são tão perfeitos
como ele pensava quando era criança. Ele também se sente meio perdido quanto à
sua identidade, sem saber bem quem é e o que o futuro lhe reserva.
Como testam sua
paciência: o adolescente começa a questionar os pais e quer romper com os
padrões familiares, ou seja, quer fazer tudo diferente do que você ensinou até
aqui! A famosa rebeldia dessa fase acontece porque ele está em busca de
construir sua própria identidade, o que é importante e deve ser compreendido
pelos pais. O grupo de amigos passa a exercer grande influência sobre ele. Seja
carinhosa, mas continue dando atenção e sendo firme ao mesmo tempo.
Seu maior desafio: seu
filho está se tornando um adulto e você precisa deixá-lo voar aos poucos. Em
cada situação, procure avaliar com clareza se é preciso dar um limite ou se ele
já tem condições de decidir sozinho o que fazer. Sempre que julgar necessário,
chame para uma conversa, mas lembre-se de que ele não é mais uma criança. Ouça
o lado dele e, mesmo que discorde, mostre disposição para compreendê-lo.
O jeito certo de
lidar: o exemplo costuma ser mais importante do que as palavras. Na
adolescência, o filho já tem condições de perceber quando o discurso dos pais
não bate com a realidade na vida prática. E, quando isso acontece, fica pior do
que não dar limites a ele. Uma situação que ilustra bem essa incoerência é
quando os pais dizem para o adolescente não beber, mas eles mesmos estão sempre
exagerando na bebida alcoólica. Seja coerente, sempre.
Revista Ana Maria -Edição
0868, 31 de maio de 2013