segunda-feira, 16 de maio de 2016

A REPETIÇÃO DE BRINCADEIRAS E HISTÓRIAS PREFERIDAS É ESSENCIAL PARA O DESENVOLVIMENTO INTANTIL

Textos e contextos : A repetição de brincadeiras e histórias preferidas é essencial para o desenvolvimento infantil

(2 anos em diante)

A fase da repetição, onde a criança se contenta em fazer a mesma atividade três ou quatro vezes,assistir ao mesmo filme ou contar a mesma história é fundamental para o desenvolvimento emocional e intelectual da criança. A repetição é um mecanismo de aprendizado e de garantia de ligação afetiva com o mundo.

Avanço intelectual 
Entre 2 e 3 anos as crianças usam as experiências para formar esquemas que as ajudem a antecipar os acontecimentos. "Repetir brincadeiras ou ouvir a mesma história faz com que elas aprendam a identificar objetos e situações, a perceber sucessões de fatos e também relações de causa e efeito. Essas experiências, chamadas reiterativas, é que impulsionam a criança a se aventurar em novos conhecimentos, pois elas podem fazer previsões e criar expectativas".
Para a criança, repetir é também uma forma de evitar a insegurança que o novo traz. "Quando repete histórias, desenhos, brincadeiras, ela confirma informações, capta melhor o que já viu e reforça sua identificação com algum elemento da história. É essa identificação, principalmente, que determina quais brincadeiras ou histórias vão ser as preferidas. Só essas serão repetidas muitas vezes, e não todas as atividades do cotidiano.
Para especialistas, os pais devem compreender e acolher essa necessidade infantil. Não é nada fácil assistir dez vezes seguidas ao filme A Bela Adormecida, mas, com certeza, vale à pena proporcionar ao filho esses momentos. Mas também é importante que os pais estejam atentos para oferecer à criança novas experiências. "Eles devem demonstrar interesse por outras situações e garantir ao filho a companhia e o apoio para se arriscar. Mesmo que isso, às vezes, signifique contar outras dez vezes uma nova história.
Melhor não mudar 
As crianças de 2 a 3 anos precisam se certificar de que as coisas ocorrem do mesmo modo, até mesmo no mundo da fantasia. Para quem ainda não tem noção do tempo, esse é o jeito de entender que a vida continua. E se essa é a base de sua segurança, a tentativa de mudar esse processo, alterando o desfecho de uma história, por exemplo, pode deixar a criança pouco confiante, frustrado nas poucas certezas que, por enquanto, fazem parte do seu repertório. É melhor respeitar todas as vírgulas, palavras e finais felizes. Nessa idade, a criança não gosta de trocar nem o contador da história, porque dele vem o afeto que dá o gostinho especial a essas experiências.
Por que meu filho quer ficar repetindo sempre a mesma coisa? 
Crianças pequenas adoram repetição porque é assim que elas aprendem melhor. Ouvir algo muitas vezes as ajuda a lembrar das informações por tempos cada vez mais longos. As mais novinhas (de 1 ano a 1 ano e meio) em particular precisam da repetição -- mais do que, por exemplo, uma criança de 2 anos e meio -- para aprender e se lembrar de informações novas.
Quando a criança aprende algo, ele vai gostar de repetir a descoberta, porque assim consegue antecipar o que vem em seguida. Não é raro encontrar crianças que decoram as falas dos filmes ou dos desenhos favoritos. Esse feito significa que a criança pode participar mais ativamente do ato de assistir ao filme.
O mesmo vale para o livro preferido. É por isso que canções e músicas simples e versos infantis têm tanto impacto numa criança pequena: ela não só pratica a fala e vocabulário cantando uma música como "Boi da cara preta" 20 vezes seguidas, como também tem a sensação de que acrescentou algo de concreto ao seu repertório.
Crianças pequenas repetem brincadeiras e atividades pelo mesmo motivo -- pela pura alegria de conseguir fazer algo. Daí vem o famoso "De novo!". Ao aprender a montar um quebra-cabeças, a criança pode querer fazer isso várias e várias vezes só para curtir o que conquistou. A repetição é um jeito de ela lembrar a si mesma  o que consegue fazer, e saborear de novo a emoção da conclusão de um feito.
As crianças pequenas sentem estar mais no controle  e, portanto, mais seguras e confortáveis , quando sabem o que vai acontecer em seguida, ter uma rotina regular ajuda a criança a estruturar o seu pensamento.  Os pequenos tendem a narrar o enredo a partir de uma matriz cristalizada em sua mente, uma espécie de versão da história que a criança guarda para si. Crianças menores, com até seis anos, tendem a seguir fielmente essa matriz. Acima dessa idade, elas começam a questionar a versão contada e a interferir na história.
A repetição de histórias é um comportamento comum na fase de construção de sua matriz.
Cada vez que ouvem a narrativa, meninos e  meninas fixam-nas mais nitidamente. É como se a matriz, a lembrança da história construída pela criança, ficasse mais nítida, presente a cada leitura.
Conforme as crianças crescem e sua matriz se fortalece, elas começam a cobrar fidelidade aos detalhes e, depois, passam a acrescentar elementos que tornem sua versão mais interessante. “Elas começam a perguntar e a exigir todos os passos da história: ‘Cadê a bruxa? E onde está o príncipe?’ Pouco tempo depois, é como se elas se descobrissem enquanto narrador.

 Elas começam a tornar a narração um elemento de sociabilidade e tentam dar ênfase para atrair seu “público espectador”.

Fonte : Revista Nova Escola.